terça-feira, 5 de abril de 2011

Exposição etnográfica "Universo das águas"


     A mostra Universo das Águas tem como objetivo celebrar a produção artesanal indígena, cuja utilização remete às atividades relacionadas à natureza das águas: pescaria, navegação e rituais.
Nesta mostra destaca-se a beleza e a funcionalidade das peças do cotidiano indígena ligadas ao Universo das Águas. Suas produções artesanais representadas em cestarias, utilitários de madeira, dentre outros, carregam em si uma linguagem natural expressa pelas formas estilísticas distintas e peculiares, que dão sentido e significado a cada artefato. Os objetos que se apresentam podem causar estranheza aos nossos olhos, pois os elementos que compõem a sua estrutura interna estão inseridos na linguagem invisível do objeto, onde reside o seu conteúdo simbólico de representação.
Para os povos indígenas, os lagos e os rios com suas disparidades de tamanho e profundidades distintas são ambientes favoráveis ao desenvolvimento da pesca e de outras atividades ligadas à alimentação, higiene corporal, ao lazer e às práticas ritualísticas.
Cada etnia possui diferentes técnicas para a pesca; alguns usam cipós e plantas envenenados, outros usam anzol e linha, armadilhas, lanças, etc. Há comunidades onde só o homem pesca tendo que acampar dias perto de lagoas e rios; há outras onde as mulheres e os filhos podem participar. Uma das atividades comumente utilizadas na pesca é a chamada “bater timbó”. Consiste no uso de substâncias vegetais retiradas de cipós (tingui e timbó) que intoxicam e atordoam os peixes, tornando-os presas mais fáceis.
Há também armadilhas para pesca, como os cestos utilizados pelos índios do Parque Indígena do Xingu-MT. Os Waurá, por exemplo, confeccionam um cesto fundo cilíndrico, provido de um cone interno com uma abertura estratégica, pela qual o peixe penetra na armadilha em busca da isca e se fecha à sua passagem, impedindo a saída. Já os índios Ikpeng fabricam o “puçá”, uma rede em forma de cone, tipo coador, presa a um semicírculo de madeira constituído de um cabo que funciona como armadilha elaborada a partir da folha da palmeira.
As armadilhas designam certos métodos de pesca empregados nessa atividade. Elas dizem respeito ao conhecimento tecnológico, à adaptação ecológica, à cosmologia, e expressam concretamente os significados e concepções de mundo das sociedades que representa.
Os índios que habitam as margens de rios ou do mar utilizam-se de remos, zingas, canoas e jangadas para cappturar e transportar seu pescado. As canoas são construídas de troncos de árvores rijas ou de grossas cascas de arvores. As jangadas, pequenas e ágeis, constituem-se de vários paus amarrados uns aos outros por fibras de vegetais. Para movê-las serve-se de diversos tipos de remos de palheta redonda ou oval.
Algumas atividades pequenas são acompanhadas de festas e trocas de objetos. É durante uma destas festas que os índios Enawenê-Nawê, que vivem a noroeste do Estado de Mato Grosso, realizam o ritual Yãkwa. Para este ritual os índios erguem barragens impedindo a passagem dos peixes preparando armadilhas. Após a captura, levam uma quantidade grande de peixes para a aldeia defumam para que não estraguem ao longo do tempo e, dessa forma, armazenam-os para as próximas refeições.
O Universo das Águas ainda é concebido como reino dos personagens da mitologia de alguns povos. A exemplo citamos o Ritual Iakuigade, que acontece entre os Bakairi da Aldeia Pakuera, habitantes da Terra Indígena denominada Bakairi, situada às margens do rio Paranatinga (MT).
No período da estiagem, segundo Estevão Taukane, o grupo se reúne para a realização desse rito. São designados vinte e dois dançarinos homens, os quais vestem máscaras, cada uma representando espécies de peixes que surgem das profundezas das águas dos rios para visitar seus ancestrais. A cerimônia se alonga por vários dias e as “máscaras dançarinas” visitam todas as casas sempre cantando e dançando. Em alguns momentos elas se dirigem ao pátio da aldeia às carreiras e intimidam as crianças, que amedrontadas fogem e buscam refúgio junto à família. Geralmente, à noite, seus cantos evocam uma cantiga de censura às mulheres por algumas atitudes que elas cometeram. Nos intervalos da cerimônia, o conjunto das indumentárias do ritual é guardado na casa das máscaras, local denominado, Kadoety, onde não é permitida a presença das mulheres. A cerimônia encerra com o lançamento das “máscaras sagradas” no rio, lugar de origem de seus espíritos ancestrais que finalmente retornam para um descanso temporário no mundo submerso das águas.


Curadoria: Adelaide S.Sodré,
Lucileide Antunes E.Santo,
Willen Reis
Texto: Adelaide Soares Sodré
FUNAI/IKUIAPÁ/ARTÍNDIA/BIBLIOTECA/CUIABÁ

05 a 29 de abril de 2011

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